Nosso corpo nem sempre é aquilo que a gente projeta sobre nós mesmos quando olhamos a nós mesmos no espelho, quando tiramos uma foto.
O mundo que nos vê e reage sobre nós é a linguagem que ele dá ao nosso corpo, à nossa expressão corporal. Nem sempre esse modo de o mundo nos ver é igual àquela que nós projetamos sobre nós mesmos. Digo mais. O como o mundo nos vê está muito distante daquilo que projetamos.
Essa falta de correlação entre o que projetamos sobre nós mesmos e o modo que de fato o mundo a nossa volta nos vê causa estranhezas de todas as ordens quando tomamos de fato consciência sobre essa distância, porém traz clareza sobre traumas mal compreendidos ou mal resolvidos.
Daí é preciso compreender a nossa referência de si mesmo a partir do mundo que nos enxerga e não daquilo que a gente projeta de si de forma isolada.
Na verdade, é fazer se compreender projetando-se a si mesmo a partir do mundo e não a partir daquilo que a gente quer ser.
Eis aqui a raiz dos grandes traumas que talvez sintamos dia a dia: pensar ser alguma coisa e o mundo nos entender e reagir sobre nós de outra forma.
Com o tempo percebi essa distância entre a projeção de mim sobre o mundo e o que o mundo pensa e me vê como eu mesmo.
Percebi que a projeção de mim mesmo era de um anjo intocável focado no belo desejado. Mas percebi com o tempo que o mundo, principalmente por conta da idade, não pensa, não reage sobre mim dessa forma, sequer me vê dessa forma.
Quando se percebe essa falta de correlação há um choque de realidade. Nessas condições ou se entra em trauma se enlouquecendo, se adoecendo ou se encontra saídas e soluções.
A solução talvez esteja em fazer essa projeção reagir como o mundo reage sobre você, claro de um modo especial e particular.
Nesse meu caso particular, o mundo não me observa, nesse caso particular o mundo me vê como invisível. No começo é assustador pensar e saber que é invisível aos outros, pensar e saber que os outros não tomam você com atenção. Mas depois de um tempo buscando esse objetivo de tomar a projeção de si mesmo como a mesma forma que o mundo te vê, ou seja, um mundo te vendo como invisível, automaticamente você começa a compreender que você é invisível, entender que sua imbricação com o mundo é ser a própria invisibilidade.
Claro aqui não trato das reações do mundo que são virulentas fisicamente. Pois aqui, a saída e solução seriam o ser se afastar desse ambiente ou se rebelar fisicamente a ele. Estou aqui em nível de projeção sobre aspectos psicológicos, que se mesmo após essas situações a solução continuar ainda traumática, a melhor solução é se afastar do ambiente nocivo e buscar medidas outras.
Agora, voltando a este meu caso particular, transformando essa nova percepção com o mundo em energia positiva, em algo bom para você mesmo, você compreende que ser invisível é talvez a maior das artes.
Ser invisível é poder estar em todos os lugares sem ser julgado, é poder estar em todos os lugares sem ser tocado, é poder estar livre, livre para circular. Claro que eventualmente somos julgados nos ambientes que estamos. Porém, se sentir invisível tira o peso do julgamento que eventualmente existirá.
No fim das contas, esse é um dom que o mundo me deu. Hoje não vejo como rejeição. Não vejo como falta de afeto. Vejo como uma naturalidade daquele ser que circula e não é ameaçado, que circula e não é desejado. Mas essa rejeição, essa falta de apego a este indivíduo gera uma força sobre o mundo por poder este individuo estar sobre, entre ele e estar nele livremente e sem embaraço.
Isso é tremendamente libertador, isso dá liberdade, isso talvez seja a liberdade. Já diria Victor Hugo: estar abandonado é estar livre. Saber lidar com o abandono é um desafio, mas depois que você descobre a importância de estar abandonado essa rejeição muda seu caráter de algo traumático para algo benéfico.
Minhas últimas sínteses têm sido: esteja abandonado (mesmo que por força maior) e esteja livre!