Palavra do Dia por Priberam

terça-feira, 18 de novembro de 2014

Sofrimentos de um jovem



Carta enviada à amada em 26 de novembro de 1989 e revelada a um amigo no mesmo dia do ano seguinte. Os sofrimentos deste amigo me lembram as memórias do jovem Werther reproduzidas por Goethe. Segue a carta:
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_ "Não mais atende as mensagens? Não sai mais com a turma? Não fala mais comigo?
_ Não, não comunico para tentar fazer meu amor por você se apagar. É como tirar de circulação o oxigênio que alimenta esta chama.
_ Tenho que ser franco, estou louco por você, embora não tenha declarado, sou louco por sua voz, seu olhar, seu jeito. Sou louco e fico louco de amor quando você fala das coisas, do mundo, de tudo. Mas, parece que nunca percebi isso, certo? Não. Eu desde a primeira vez que a vi já transpirei.
_ Enfim.
_ Você poderia me perguntar: você teve a oportunidade e porque não mostrou isso?
_ Bom, aqui é a parte mais chata que tive que encarar, onde uma estaca foi fincada no meu coração por mim mesmo. Quando te toquei, te beijei, te senti, foi uma das coisas mais incríveis. Tinha já te dito (parafraseando Victor Hugo): era tanta beleza e perfeição que era necessário fechar os olhos; é como olhar para o sol a olho nu, ninguém aguenta sem queimá-los.
_ Quando tive o primeiro encontro com você naquela Madalena, eu realmente tinha ido lá para afogar as mágoas, até mesmo estava em outro bar já dando início a ela. E você como uma luz [...] me aparece. E você me perguntaria: e aí, não lhe fiz bem? Onde estão as declarações? Bom, eu estava naquele dia e ainda estou numa crise de vida muito grande. Ia te contar num dia em que te convidei para ir ao sítio [...] para você entender os momentos da minha vida, em que é difícil manter o sorriso com vigor.
_ Como eu te disse, eu a amo, mas, eu como guardião desse amor e da sua felicidade, ainda mais depois do seu axioma, que concordei desde o princípio: você não precisa de um homem para ser feliz.
_ Foram poucos encontros entre a gente, mas já mostraram o quanto você é grande.
_ Aprofundar-me em você na realidade e não mais na imaginação era tudo que queria. Porém, esse mergulho real nos faria compartilhar problemas e coisas boas. E foi onde gelei (finquei a estaca no coração) um pouco nossa relação, com intuito de você também não se envolver e se chatear pelos problemas que venho enfrentando na vida. Não queria vê-la infeliz ao meu lado. Mas, tudo isso ficou na imaginação e não deixei o real acontecer, aí que a estaca entrou mais fundo no meu coração.
_ Lembro-me daquela sexta-feira, [...] a minha apatia, como se não houvesse nada entre nós, mas, por dentro, eu estava pegando fogo. Conversamos um pouco. Depois cada um no seu canto e percebi seu flerte com meu grande amigo, ali senti que tinha te perdido, por algo que eu mesmo acredito ter provocado. Nesta hora, foi quando senti apertar mais e mais a estaca no coração, mas, me veio uma pequena voz de conforto e me disse: você como guardião está deixando ela ser feliz, e isso é o que importa, sem envolver ela com seus problemas.
_ No sábado, eu te convidei e você recusou: houve o não. Naquele momento tive a certeza.
_ Na terça, tinha te convidado para uma conversa, e nela ia te colocar a par da situação. E sinceramente ouvindo aquela pequena voz ia pedir para nos afastarmos. Mas, você adiantou tudo, sem, acredito, se sentir mal, o que, como guardião, consegui, pois, você estava feliz.
_ Mas, depois deste corte temporal, aquela pequena voz de conforto foi sumindo até não mais existir, principalmente no momento em que mais precisava dela. Então, o coração, como um pássaro selvagem trancado a uma gaiola, queria tirar as estacas e sair. Foi quando pensei, repensei e vi que não tinha feito a melhor escolha.
_ Fui lidando com isso, até que recebo uma [mensagem] do meu grande amigo, em que ele marca território, desculpe o termo machista. Com a mensagem, ora vinha na minha cabeça a pequena voz guardiã ou a força do coração. No fim, como resposta [...], deixei uma na mensagem e outra na cabeça. Na resposta, a pequena voz guardiã e na cabeça, a força do coração.
_ Veio sexta-feira, [semanas depois do ocorrido], e, eu, doido como um pássaro dentro da gaiola, vi você [...]; era como colocar mais carvão na chama que mantém vivo o coração. Vi meu grande amigo e apenas não queria vê-los para eu não sofrer ainda mais. O que foi em vão. Tomei um porre naquela noite e dormi muito mal.
_ No dia [seguinte], recebo suas mensagens sem entender o que estava acontecendo. Meu coração queria explodir naquela hora. Ele ainda era muito louco por você. Mas, veio aquela pequena voz e disse: ela está com seu grande amigo, se afaste para você não machuca-los. O que foi feito. Nisso a agonia do coração aumentou. E, dias depois, tenho notícia muito feliz e triste: você e meu grande amigo namorando. [Expressão gestual]. Meu coração quase parou, as estacas colocadas por mim tinham se arraigado.
_ A partir de então, tenho deixado o tempo agir e digo que ninguém e nada resiste ao tempo, nem mesmo o amor, momento em que evito você e meu grande amigo até que o tempo apague o fogo do coração e o recupere.
_ Posso ter sido um [...] inexperiente, moleque, novo. São condições objetivas que o mundo me impôs. Quanto à fase em crise que estou não convém lhe contar.
_ Ainda amo você mesmo lhe conhecendo pouco tempo.
_ Mas hoje para mim é cada vez mais claro que não posso ter seu amor.
_ Desejo a você que seja feliz. Nunca viva relações por conveniência, nunca se case por conveniência, nunca tenha filhos por conveniência, nunca tenha nada por conveniência, e, sim, as tenha por amor. Só assim você própria conduzirá sua vida e não a sociedade.
_ Dói-me dizer isso tudo. Mas, hoje me afasto de você para que você brilhe nos braços de outro homem. Afasto-me para tentar-te desamar! Deixo o tempo agir!
_ Cuide-se e nunca perca este sorriso!"


Algumas informações foram suprimidas por pedido do subscritor.
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Fulvio Machado Faria

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