"Muita vez, a causa principal da pobreza, em ciência, é a riqueza presumida. A finalidade da ciência não é abrir a porta ao saber infinito. Mas colocar um limite à infinitude de erros. Tomem as suas notas." A vida de Galileu, de Bertolt Brecht
Em tempos em que ciência deve coordenar as ações políticas, vários políticos tomam para si uma riqueza presumida de saber como se dará ou não determinada medida. Nada mais fazem do que pobreza em ciência (ou melhor, não ciência).
A ciência que aponta hoje é a riqueza de saberes de vários anos, décadas, centenas de anos. É a que tem métodos antigos e muitos testados para as séries históricas e dados testáveis para os tempos de hoje.
Por outro lado, apostar na presunção de uma fátua experiência individual de vida que não passa de três a seis décadas de experiências, e de que, a partir delas, se sabe conduzir, é nada mais que riqueza presumida, como bem desenhou Brecht, nada mais é que arrogância das mais pueris.
Eu, nessa história toda, fico com a ciência de Galileu, fico com a ciência de Brecht, fico com os cientistas de hoje que não fazem de suas ciências apenas um apanágio de riqueza presumida, de uma arrogância pessoal.
fulvio faria
Quem sou eu
Palavra do Dia por Priberam
domingo, 3 de maio de 2020
quarta-feira, 29 de janeiro de 2020
No mundo que vivo ninguém quer saber o que tenho a dizer. Então, aprendi a não falar. Reverter tudo pra minha imaginação é o que se deu para fazer. Ainda bem que este campo é infinito. Mas para ser fértil é preciso estar longe do mundo externo que não quer ouvir o meu dizer, pois o que vem de fora atinge o que vem de dentro. Daí não viver, ou viver cada vez menos, socialmente é o caminho que irriga o solo da minha imaginação. Tenho feito, e digo que viver assim traz mais conforto.
domingo, 22 de abril de 2018
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As coisas são mais belas distantes. Quanto mais próximo estamos delas, mais aumenta o desafio por mantê-las ainda belas. Até que de uma admiração e contemplação passa-se a um estágio de repulsa, de hostilização, de um caça aos erros e falhas. Mais anos vão, mais anos vêm, e percebo cada vez mais que esta síntese se aplica a quase todas as relações humanas, sejam elas entre humanos e objetos ou entre humanos e humanos. Daí é fácil apreciarmos ídolos musicais, pois que distantes estão. Daí que hostilizamos aqueles que estão próximos, pois mais fácil identificar seus erros e falhas. A solução seria fácil: compreender sempre as coisas e as pessoas até o limiar da porta de seus universos, sempre à distância, nunca mergulhar em seus mundos ou perscrutar seus detalhes. Do meu lado, fui para outra solução, tenho sido míope quando mais próximo estou, diminuindo o rigor da minha moralidade.
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quinta-feira, 26 de outubro de 2017
Um carro fiat uno passou acelerado pela rua!
Um carro fiat uno passou acelerado pela rua!
São pessoas querendo partir o mundo. Pegando-lhe a maior
parte sempre quando possível. Mal surte a pequena felicidade e a querem. Mas
quando vão ao encontro dela para possui-la caem num estrondoso tédio. Como são
infelizes. Realmente o são por falta de qualificação. Em que tempo já se
percebeu que todos que se dizem homens já conseguiram a felicidade plena livre
de sofrimentos? Em tempo nenhum. Dizem que está tudo certo e tudo bem, mas
sabemos que não é assim. Repelem-nos quando dizemos verdades, pois
inconscientemente dizemos: não há esperança. E muitos não querem crer em tal
negação.
Esperança é esperar, esperar algo, que está no futuro. Ora,
quem vive de esperança não vive e sim se ausenta ao seu tempo a espera de um
melhor. Mas veja, um douto me disse que o tempo em-si não existe, o que existe
é o movimento, e o movimento só é perceptível ao agora, ao presente; ao passado
só é possível representar, como um belo casal que reproduz Romeu e Julieta, não
o reproduzem na perfeição em que se criou. E o futuro? Pobre coitado, nem foi
movimentado, vive de especulações.
Escrito em meados de 06/08/2009
* post scriptum na data dessa publicação
segunda-feira, 9 de outubro de 2017
UMA IDEIA FIXA NUMA COLAGEM
UMA IDEIA FIXA NUMA COLAGEM
Fui convidado pelo Movimento Laranja para participar da Collage
Coletiva. Conferi o conteúdo da proposta, conferi seus trabalhos e achei bem
interessante participar desse momento, ainda mais que estou numa fase da vida
de muita introspecção. E, também, porque os trabalhos de colagem sempre foram
para mim como são os samples na
música eletrônica.
Na sexta-feira, preparei alguns materiais para levar, tinha
algumas revistas da OAB que não usava e algumas delas sequer lido qualquer
página, tinha uns jornais de grupos universitários das instituições que visito.
Tinha algumas edições do Le Monde
Diplomatique. Levei também alguns materiais para doação ao movimento da
época que coordenava projetos sociais, como tesouras e giz de cera.
Cheguei no sábado já bem ameno depois de uma correria que foi a
parte da minha manhã, já que eu precisava comprar um celular novo por conta do
que tinha quebrado na sexta-feira a noite e ainda arrumar a fechadura da porta
de casa. Superado isso tudo na parte da manhã, estava eu na casa 282.
Quando cheguei já fazia alguns minutos que tinha começado a aula
de yoga. Então, por respeito aos que lá estavam e já tinham chegado, preferi
aguardar na garagem. Além que espiritualmente estava bem agitado para arriscar
a imersão no yoga. Por um lado, essa espera foi boa pois que apareceram duas
amigas com as quais proseei e fui entrando numa calmaria necessária para o ócio
criativo que se avizinhava.
Acabado a aula de yoga, vocês nos convocaram para o início das
atividades. E eu já estava certo que queria, eu, entrar numa imersão de samplear, digo, fazer colagens. Você fez
as orientações, mostrou alguns trampos interessantíssimos, e depois todos mãos
à obra.
Como eu disse, estava disposto a entrar na imersão da arte. Foi
então que peguei algumas revistas sobre a mesa e comecei a folhear e capturar
fragmentos que podiam me levar a alguma construção de sentido ou narrativa. Foi
assim com a primeira revista que quase deu todo o banco de imagens necessários
para eu fazer a minha colagem, e já dar ideias de uma possível narrativa a ser
construída. Depois folheei outros jornais para coletar outros fragmentos que
pudessem colaborar com a narrativa que se estava por construir.
Coletada as imagens, precisava eu tratá-las, melhor, recortá-las
dentro daquilo que podia surgir. Foi quando sentei num canto da sala e comecei
a fazer este processo que era ao mesmo tempo de recorte, de imersão, de
reflexão, e de composição. Como se a colagem, percepção e memória fossem um só,
mesmo parte desses elementos estando fora de mim, foro do sujeito.
Fui construindo a colagem. A narrativa inicial era uma, e na
medida em que ia formando os quadros possíveis, a narrativa ia ganhando outro
sentido, até que ao final precisei coletar mais fragmentos para completar a
narrativa final que com relação à primeira ideia guardava pouco sentido.
No final conclui uma imagem, esta:
Que me deu uma série de reflexões.
Depois da conclusão, foi quando fui tomar um café e nos
encontramos.
As minhas reflexões sobre a obra e seu processo, digo colagem,
eram, como eu tinha te relatado, como ela me levou a uma imersão na construção.
De como essa imersão permitiu uma coisa que me incomodou com a obra, qual seja:
como ela reflete o momento em que estamos vivendo. Por isso eu reforcei a ideia
de sample, porque era a mesma
sensação quando faço isso com música. Explico-me.
O que percebi naquele momento é que o processo de coleta de
imagens é totalmente influenciado pela nossa história, momento que estamos
vivendo, ou pelo que chamo as vezes de ideia fixa a que estamos no momento. E
no final eu vejo que uma ideia fixa que está me permeando nos últimos meses sai
na obra final, embora a narrativa/proposta inicial guardava com ela pouca
relação. Por isso menciono que, na imersão, é como se os fragmentos de imagem e
a percepção do indivíduo (no caso, eu) fizessem parte de um ser só, ou seja,
era como se os fragmentos de imagem estivessem na composição das minhas memórias
e imaginação, e estas são sempre afetadas por aquilo que estamos sentindo em
determinada época. E, o que mais me incomodou foi como, com os fragmentos
coletados, consegui dar sentido ao final a uma narrativa da ideia fixa que vem
me permeando nos últimos meses.
Usamos óculos para ampliar nosso campo de visão, ver mais e
melhor. Usamos bicicletas, automóveis e etc. para andarmos mais, podermos nos
locomover mais. Usamos caixas acústicas, microfones com caixas de som, para
podermos amplificar e aumentar mais nossa voz. Usamos vários instrumentos para
aumentar nossa percepção. E na colagem, principalmente naquele relato que te
fiz, tive a impressão de ter ampliado o sentido da minha expressão, das minhas
ideias. Para se expressar uma ideia na escrita é necessária muita experiência
de vida, bastante vocabulário e etc. E sem dúvida aquilo que expressamos
reflete muito aquilo que vivemos, salvo se estivermos muito propensos a
aleatoriedade, o que não foi o caso comigo. E posso dizer: as imagens coletadas
eram meu vocabulário naquele momento, eram o meu modo de expressar minha ideia
fixa.
escrito em 18/07/2017 por Fulvio Machado Faria endereçado a N.A.
domingo, 4 de junho de 2017
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