UMA IDEIA FIXA NUMA COLAGEM
Fui convidado pelo Movimento Laranja para participar da Collage
Coletiva. Conferi o conteúdo da proposta, conferi seus trabalhos e achei bem
interessante participar desse momento, ainda mais que estou numa fase da vida
de muita introspecção. E, também, porque os trabalhos de colagem sempre foram
para mim como são os samples na
música eletrônica.
Na sexta-feira, preparei alguns materiais para levar, tinha
algumas revistas da OAB que não usava e algumas delas sequer lido qualquer
página, tinha uns jornais de grupos universitários das instituições que visito.
Tinha algumas edições do Le Monde
Diplomatique. Levei também alguns materiais para doação ao movimento da
época que coordenava projetos sociais, como tesouras e giz de cera.
Cheguei no sábado já bem ameno depois de uma correria que foi a
parte da minha manhã, já que eu precisava comprar um celular novo por conta do
que tinha quebrado na sexta-feira a noite e ainda arrumar a fechadura da porta
de casa. Superado isso tudo na parte da manhã, estava eu na casa 282.
Quando cheguei já fazia alguns minutos que tinha começado a aula
de yoga. Então, por respeito aos que lá estavam e já tinham chegado, preferi
aguardar na garagem. Além que espiritualmente estava bem agitado para arriscar
a imersão no yoga. Por um lado, essa espera foi boa pois que apareceram duas
amigas com as quais proseei e fui entrando numa calmaria necessária para o ócio
criativo que se avizinhava.
Acabado a aula de yoga, vocês nos convocaram para o início das
atividades. E eu já estava certo que queria, eu, entrar numa imersão de samplear, digo, fazer colagens. Você fez
as orientações, mostrou alguns trampos interessantíssimos, e depois todos mãos
à obra.
Como eu disse, estava disposto a entrar na imersão da arte. Foi
então que peguei algumas revistas sobre a mesa e comecei a folhear e capturar
fragmentos que podiam me levar a alguma construção de sentido ou narrativa. Foi
assim com a primeira revista que quase deu todo o banco de imagens necessários
para eu fazer a minha colagem, e já dar ideias de uma possível narrativa a ser
construída. Depois folheei outros jornais para coletar outros fragmentos que
pudessem colaborar com a narrativa que se estava por construir.
Coletada as imagens, precisava eu tratá-las, melhor, recortá-las
dentro daquilo que podia surgir. Foi quando sentei num canto da sala e comecei
a fazer este processo que era ao mesmo tempo de recorte, de imersão, de
reflexão, e de composição. Como se a colagem, percepção e memória fossem um só,
mesmo parte desses elementos estando fora de mim, foro do sujeito.
Fui construindo a colagem. A narrativa inicial era uma, e na
medida em que ia formando os quadros possíveis, a narrativa ia ganhando outro
sentido, até que ao final precisei coletar mais fragmentos para completar a
narrativa final que com relação à primeira ideia guardava pouco sentido.
No final conclui uma imagem, esta:
Que me deu uma série de reflexões.
Depois da conclusão, foi quando fui tomar um café e nos
encontramos.
As minhas reflexões sobre a obra e seu processo, digo colagem,
eram, como eu tinha te relatado, como ela me levou a uma imersão na construção.
De como essa imersão permitiu uma coisa que me incomodou com a obra, qual seja:
como ela reflete o momento em que estamos vivendo. Por isso eu reforcei a ideia
de sample, porque era a mesma
sensação quando faço isso com música. Explico-me.
O que percebi naquele momento é que o processo de coleta de
imagens é totalmente influenciado pela nossa história, momento que estamos
vivendo, ou pelo que chamo as vezes de ideia fixa a que estamos no momento. E
no final eu vejo que uma ideia fixa que está me permeando nos últimos meses sai
na obra final, embora a narrativa/proposta inicial guardava com ela pouca
relação. Por isso menciono que, na imersão, é como se os fragmentos de imagem e
a percepção do indivíduo (no caso, eu) fizessem parte de um ser só, ou seja,
era como se os fragmentos de imagem estivessem na composição das minhas memórias
e imaginação, e estas são sempre afetadas por aquilo que estamos sentindo em
determinada época. E, o que mais me incomodou foi como, com os fragmentos
coletados, consegui dar sentido ao final a uma narrativa da ideia fixa que vem
me permeando nos últimos meses.
Usamos óculos para ampliar nosso campo de visão, ver mais e
melhor. Usamos bicicletas, automóveis e etc. para andarmos mais, podermos nos
locomover mais. Usamos caixas acústicas, microfones com caixas de som, para
podermos amplificar e aumentar mais nossa voz. Usamos vários instrumentos para
aumentar nossa percepção. E na colagem, principalmente naquele relato que te
fiz, tive a impressão de ter ampliado o sentido da minha expressão, das minhas
ideias. Para se expressar uma ideia na escrita é necessária muita experiência
de vida, bastante vocabulário e etc. E sem dúvida aquilo que expressamos
reflete muito aquilo que vivemos, salvo se estivermos muito propensos a
aleatoriedade, o que não foi o caso comigo. E posso dizer: as imagens coletadas
eram meu vocabulário naquele momento, eram o meu modo de expressar minha ideia
fixa.
escrito em 18/07/2017 por Fulvio Machado Faria endereçado a N.A.
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