Nessa semana com a chuva torrencial em Pouso Alegre, surgiu
o meme de que as obras das galerias de águas pluviais na região central do
Município não obtiveram sucesso. De que não evitaram os recorrentes alagamentos
da região central. Alguns até saíram no discurso de desvios, superfaturamento e
corrupção nas obras, como condição sine qua non da ocorrência das enchentes.
Bom. E independente de qualquer juízo sobre as licitações envolvendo as
referidas obras. Se o poder público municipal anunciou as obras de águas
pluviais recentes como medidas sanadoras das enchentes, ele mentiu, não pelos
recentes acontecimentos e obras, mas por desconhecer a estrutura, história e
geografia do nosso Município. Aqueles que saíram na corrida do meme,
esculachando o poder público diante da promessa, mostram ingenuidade e falta de
conhecimento do mal planejamento urbano que no mínimo há 50 anos vem sendo
errante no nosso Município.
Pra quem vê a Natureza agir, sabe que estamos dentro de uma
bacia hidrográfica ou de drenagem. Sabe da grande concentração de minas e nascentes
d’água na nossa região, o que a faz ser chamada de várzea. Sabe que antes da
ocupação do solo pelas construções a água penetrava no solo e também por força
da gravidade seguia rumo ao encontro do grande rio. Hoje pra quem vive nas
redondezas do bairro Primavera e Esplanada sabe que as construções residenciais
criaram intensa impermeabilidade do solo. Que os passeios são na maioria de
concreto tornando-os na maioria das vezes também impermeáveis. Que nas ruas
desses bairros dificilmente existem galerias de drenagem das águas. E que
quando existem são insuficientes para o correr e contenção das águas. Quem vê a
Avenida São Francisco – da Câmara Municipal – em dias como os que ocorreram
percebem bem isso. O resultado é que todo o concreto do alto do Pouso Alegre
vira um perfeito tobogã para o deslize das águas das chuvas que por lá caem e,
por força da gravidade, se concentram ao baixo centro da cidade no final.
O combate das enchentes na região central de Pouso Alegre
passa necessariamente por planejamento de longo prazo, por modificações
sinceras no Plano Diretor e no Código de Obras, controlando e policiando tanto
loteadores, como o Direito de Construir dos proprietários. Criar medidas,
amparadas suficientemente no Estatuto da Cidade, como modo de estimular a volta
da permeabilização do solo, de permitir o processo natural: de permitir a água
acessar a terra. Combater as enchentes da região central de Pouso Alegre
envolve a vontade política não só do poder público, mas principalmente dos
moradores e comerciantes em entenderem que a cidade é um tudo integrado de modo
que se se deixa o solo impermeabilizado do alto do Esplanada e até o baixo
centro é claro que as enchentes virão, e não bastarão os aumentos das galerias
do baixo centro para conter os ânimos das águas.
O que me entristece nessa situação toda é a energia
dispendida no deboche por parte de moradores e comerciantes em relação às
enchentes e não dispensarem forças em realmente tentar entender as causas desse
acontecimento, cobrando medidas tanto dos seus pares quanto do governo.
Preferem partir para o descrédito das políticas públicas, quando eles mesmos
não a realizaram na de boa vizinhança. Quanto ao poder público, não há nem o
que dizer, ainda mais quando estamos num processo de feitura do Plano Municipal
de Saneamento Básico, e esse projeto é tratado com amadorismo e desdém, com
subterfúgios discursos vazios e de extrema prolixidade. Ao poder público, como
há 50 anos, parece que está no constante amadorismo de achar que se está
dirigindo uma pequena vila de (P)ouso (A)legre e que dá para trabalhar a toque
de caixa. Talvez de tudo isso que disse acima, possa eu estar errado, mas,
porque não debater? Pouso Alegre talvez mereça ser debatida seriamente, ter mais
ideias, mais planejamento, mais coragem. Contrariamente, parece que nosso rumo
é outro. Que letargia é essa?! Como dizia a juventude nas jornadas de junho de
2013: Acorda, Pouso Alegre!
Fulvio Machado Faria
Fulvio Machado Faria
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