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Não ceder à primeira impressão.
Há pessoas que se casam, por assim dizer, com a primeira impressão, de forma que as demais são concubinas, e, já que a mentira sempre se adianta, depois não fica lugar para a verdade. Não se satisfaça a vontade com o primeiro objeto, nem o entendimento com a primeira proposição, pois seria pobreza de intelecto. Algumas pessoas são como vasilhas de barro novas que ficam impregnadas com o primeiro odor que as toca, quer seja bom, quer ruim. Quando tal pobreza chega a ser conhecida, torna-se perniciosa pois dá pé a maquinações maliciosas; os mal-intencionados fazem tudo por tingir de sua cor a credulidade. Haja sempre lugar para revisões; guarde Alexandre a outra orelha para outra parte; haja lugar para a segunda e a terceira informação. Impressionar-se demonstra incapacidade e chega perto de apaixonar-se.
N.d.t.: "a outra orelha (sic!) de Alexandre" - relata Arturo del Hoyo que Alexandre Magno sempre tapava um dos ouvidos ao escutar uma acusação. Perguntando por que, respondeu que o guardava para o réu. Sêneca (in Medea 2,2,199) diz: "Qui statuit aliquid, parte inaudita altera, aequum licet statuerit, haud aequus fuit." = Quem decidir sem ouvir a outra parte não age com justiça ainda que sua decisão tenha sido justa. Donde se derivou a expressão "audi alteram partem" ou "audiatur et altera pars". (Segundo Buchmann, "Palavras Aladas".)
[In: BALTASAR GRACIAN. Oráculo Manual e arte de prudência. São Paulo: Ahimsa, 1984. p. 148-149]
Fulvio Machado Faria
Fulvio Machado Faria
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